© Elton Cardoso |
Meu interesse em ler Caio Fernando Abreu surgiu após alguns
dias passeando pelo universo do Tumblr e ler com bastante frequência algumas
citações dele. Após isso, fui pesquisar na internet quais eram os livros mais
populares e o escolhido foi “Limite Branco”.
Abreu nasceu em Santiago no Rio Grande do Sul e veio a
falecer em Porto Alegre aos 48 anos de idade, foi um grande dramaturgo,
jornalista e, obviamente, um ótimo escritor brasileiro.
Limite Branco foi o seu primeiro romance, em que o autor
escreveu quando tinha aproximadamente 19 anos, e desde o início do livro, já é
possível ver como iria se dar a leitura daí em diante.
Neste romance, conhecemos Mauricio, um adolescente de 19
anos que há anos tem o hábito de escrever alguns fatos de sua vida em um
diário, além de recorrer ao passado, mais precisamente em sua infância, para
nos contar sua história.
O livro tem uma característica bem intimista, e é desta
forma que a personagem principal recorre ao seu passado, com o intuito de
relembrar o que foi vivido, e não com a intenção de nos contar sua biografia.
Desta forma, podemos perceber todas as dúvidas, angústias, medos, raiva e
anseios pelos quais Mauricio enfrentou, isso fazia com que a narrativa tivesse toda
uma carga pessoal o que me fez lembrar muito de monólogo interno. E era
basicamente isso que CFA nos apresenta em seu livro.
Como mencionado, por se assemelhar bastante de um monólogo,
tive a impressão de ver toda a intimidade de uma pessoa (o Mauricio) ali
expostas, todos os sentimentos angustiantes, duvidosos, conflitantes que boa
parte de nós tivemos durante a puberdade e adolescência.
Aqui, o autor, escancara toda a sua habilidade de narrar
seus sentimentos da forma mais interessante e pessoal possível. Através dos
pensamentos de Mauricio, pude ver que não fui tão diferente dele em
determinados pontos e reflexões.
Reflexões, realmente é algo que me aconteceu muito durante
toda a leitura – em que fez questão de ler com bastante calma para que pudesse
absorver sem pressa tudo aqui que Caio Fernando Abreu queria nos transmitir.
A narrativa do livro é intercalada com as narrações do
personagem principal acerca de sua vida desde a infância, em que ele passava as
férias na fazenda da família e tinha que lidar com alguns parentes que ele não
sabia no momento se gostava ou não e com isso, toda a percepção que ele tinha
na época sobre como ele via determinados parentes e situações que ali
vivenciou.
Saindo da infância e entrando na fase da puberdade e adolescência,
Mauricio tem seus primeiros contatos com a sexualidade, seja de maneira
indireta e/ou direta, e isso, assim como outras situações o faz se trancar em
seu mundo pessoal e pensar muito sobre muitas coisas como o sexo em si, a
despertar de sua sexualidade e como ele encara e lida com isso ao longo dessa
fase de sua vida.
Com o avançar das páginas, chegamos ao tempo ‘presente’, em
que o personagem-narrador está situado, ele já tem 19 anos, praticamente um
adulto, e desta forma, nós vamos vendo como seus ideias e objetivos vão mudando
sobre determinados assuntos em relação às suas ideias de anos atrás.
Entretanto, o que realmente me deixou instigado em sempre
ler mais do primeiro livro de CFA, foi o fato de o autor ter intercalado entre
os capítulos os escritos de Mauricio em seu diário. Ou seja, ora era um
capitulo narrando passagens da vida da personagem, ora era uma parte do diário,
sempre seguindo a ordem cronológica.
Estas partes do diário me chamaram bastante atenção pois era
nesses capítulos em que era possível vermos o que Mauricio realmente era,
sentia e pensava de verdade, sem pudores ou censura. Me identifiquei com os
escritos dele pois, assim como o personagem, eu também mantenho um blog em que
faço dele um diário, isso me fez ter altas viagens reflexivas acerca de tudo o
que o personagem estava sentindo.
O livro termina de uma forma bastante inesperada, pelo menos
para mim não foi nenhum pouco previsível, e o que ali aconteceu – que não irei
revelar por motivos de spoilers – também traz uma certa melancolia além da tal
reflexão acerca do que pode acontecer em nossas vidas.
Caio Fernando de Abreu além de nos apresentar com uma ótima
história, também tem a incrível habilidade de nos presentear com várias citações
magnificas, assim como falei ali no começou que foram justamente as quotes que me levaram a lê-lo isso se
comprovou ao longo da leitura deste livro. Portanto, eu super recomendo a
leitura de Limite Branco, se você
curte ou quer ler livros com essa pegada mais intimista, meio monólogo interior
junto com algumas reflexões, além de poder ler um dos maiores autores que nosso
país já teve.
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